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Dicas de Saúde / Psicologia
 
A Barbie Morreu (na China)
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As vendas da boneca Barbie na China não foram suficientes para manter aberta a maior loja do mundo da Mattel, sua fabricante, inaugurada há dois anos, em Xangai. Essa semana ela fechou suas portas. Resistência à americanização? Sinais de novos tempos? É curioso, para não dizer sintomático, que a venda da Barbie não tenha decolado na China, essa nova potência mundial de consumo.

À parte das razões econômico políticas, a Barbie não vendeu na China talvez porque ela represente o ideal da mulher norte americana, exportado para outras culturas, principalmente as ocidentais.

Lançada na Feira Anual de Brinquedos de 1959 pelo casal Elliot e Ruth Handler, seu nome foi uma homenagem a filha do casal, Barbara, que havia se tornado adolescente e ainda gostava de brincar de bonecas. Seus pais, donos da fábrica de brinquedos Mattel, perceberam que não havia no mercado uma boneca apropriada para meninas adolescentes, mas apenas bonecas com corpo e rosto de bebê.

Como já sabemos, norte americanos transformam qualquer coisa em negócio com muita rapidez. Barbie é a boneca mais vendida no mundo atualmente. São 120 milhões unidades comercializadas por ano (sem contar as falsificadas), isto é, duas bonecas vendidas por segundo!

Barbie já nasceu adolescente e atendendo aos ideais de beleza norte americanos: magra, seios fartos, cintura fina, pernas longas, pele dourada, cabelos louros e traços delicados. Interessante lembrar que seu primeiro modelo foi tirado de uma boneca alemã erótica tendo inclusive seus criadores que pagar uma indenização ao fabricante europeu.

Também por já ter nascido adolescente, Barbie foi a primeira boneca da história a ser maquiada. Seus valores voltados para a moda e os acessórios sem fim são coerentes com as adolescentes norte americanas; tão adolescente que dois anos depois do seu nascimento, Barbie ganhou um namorado, o perfeito Ken.

O slogan norte americano que acompanha a boneca é be anything , resumindo o desejo de ser qualquer coisa que gire em torno de ser rica, famosa, bonita, dentro da moda e bem acompanhada. Trata se de um ideal de existência lançado pela cultura norte americana, sustentado na aparência e em valores mensuráveis.

A boneca evoluiu até completar seus bem vividos cinqüenta anos, seguindo a tendência da moda de cada década. Sempre bela, já foi hippie chic, vestiu se de Jaqueline Kennedy, usou taillers quando as mulheres tornaram se executivas, dirigiu Ferrari e recentemente pode ser encontrada em qualquer versão, de princesa à estrela do rock, desde que sempre fashion.

Barbie não é uma boneca para crianças, apesar de ser desejada e por elas também. Como brincam as crianças pequenas com ela? Quando uma menina brinca de boneca, o que está em jogo ali é seu desejo de ocupar um lugar que ainda não é seu, é uma promessa de futuro contida no quando eu crescer... . Nenhuma criança brinca no tempo presente e nem de ser o que ela já é; por isso ao brincar de boneca, quer ser a mãe e não a filha. Se a boneca é um bebê, já sabe o que fazer com ela, pois já passou por isso: vai trocar fraldas, amamentar, por e tirar chupeta, ensiná la a falar. Mas, o que fazer com uma boneca que é uma filha adolescente, tempo que a criança ainda não viveu?

Observem as meninas: elas não brincam de ser mães de suas Barbies e sim de serem as próprias Barbies, colocando no jogo um ideal de futuro sonhado por elas. E que ideal é esse? É um espelho no qual se projeta um ideal de virtude feminina, que ainda é bem diferente no mundo oriental.

O futuro, ao futuro pertence, mas certamente a Mattel não voltará a abrir uma megaloja na China sem antes responder a uma pergunta de uma típica pré adolescente daquele país: espelho, espelho meu, tem alguém no mundo mais bela do que eu? .

Dra. Renata De Luca é psicóloga, especialista em psicanálise de crianças e de adolescentes pela USP, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria. Contato: renatadeluca@uol.com.br
 
Fonte : Dra. Renata De Luca Publicado : 11/03/2011
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