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Dicas de Saúde / Psicologia
 
O Crack Saiu da Periferia
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Tem um ditado pessimista que diz que nada é tão ruim que não possa piorar. Não gosto muito de lembrá lo, muito menos de citá lo, mas não me ocorre outro para comentar dados de uma recente pesquisa feita pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) da UFRJ, sobre o perfil do usuário de crack no Brasil.

Para os que estacionaram nos anos 80, o crack é a droga mais impura e tóxica pertencente à família da cocaína. É uma pasta não refinada misturada com bicarbonato de sódio, de consistência sólida em forma de pedra, que queimada dentro de latas ou garrafas, é inalada pelo usuário. Causa extrema euforia de efeito breve, o que leva ao desejo de consumo novamente. A pedra , como é conhecida, é usada no Brasil desde o início dos anos 90 e começou nas grandes cidades entre os menores de rua, que dominados pelo vício que a droga causa, formaram o grupo apelidado por nóias : pessoas com olhar de zumbi, que vagam pelas ruas e perdem qualquer noção de sociabilidade e valor humano, pois a dependência contínua do crack provoca danos cerebrais irreversíveis, doenças psiquiátricas e físicas (problemas respiratórios e cardiológicos são os mais comuns), além das complicações legais nas quais o usuário se mete para comprar a droga.

Os dados da pesquisa do CEBRID mostram que esse perfil de usuário sofreu alterações na década de 2000, deixando de ser exclusiva entre os jovens desprotegidos pelas famílias para atingir outros perfis de usuários e atualmente, está presente em todo território nacional e em todas as classes sociais. Ou seja, não temos mais um perfil delimitado dos usuários; ele é uma ameaça para todos os drogaditos. O mais perverso é saber como isso ocorreu: o tráfico de droga dificultou a venda da cocaína para os usuários, para reservá la para o mercado internacional, mais rentável e oferecia a pedra como alternativa de consumo mais barata e acessível. Como quem está na chuva, é para se molhar , o crack colou entre esses jovens vulneráveis.

O álcool ainda é o que mais mata em nosso país. Segundo os últimos dados do DATASUS (2005) foram 6.109 mortes associadas ao uso do álcool em 2005, contra 24 associadas ao uso da cocaína (incluindo o crack). A idade média na qual ocorre o primeiro uso também é distinta: 12,5 anos para a bebida e 13,5 para o crack, mesmo assim, os efeitos deste são infinitamente mais rápidos e avassaladores do que os do álcool, o que levou o Governo Federal a lançar em 2010, o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, com um investimento programado de 400 milhões de reais.

Esse plano contempla várias ações em diversas esferas: sociais, clínicas, pesquisa e educação. Nela está prevista a qualificação profissional, pois é um desafio para a saúde ajudar esses jovens e os resultados dos tratamentos ainda deixam muito a desejar. Uma medida prevista para a área da saúde nos dá idéia da dimensão do problema: serão abertos leitos nos hospitais gerais para pessoas com mais de quatro anos de idade, dependentes de drogas. Isso mesmo, você leu corretamente: quatro anos de idade!

Resta nos acompanhar os resultados desse investimento e torcer para que nada fique pelo caminho, para que possamos somar forças que nos tirem desse estado de vulnerabilidade que as drogas nos colocaram. Ou você ainda acha que não tem nada haver com isso?


Dra. Renata De Luca é psicóloga, especialista em psicanálise de crianças e de adolescentes pela USP, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria. Contato: renatadeluca@uol.com.br
 
Fonte : Dra. Renata De Luca Publicado : 17/03/2011
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