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Dicas de Saúde / Psicologia
 
Autismo: o desafio do diagnóstico precoce
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Em dois de abril comemoramos o dia mundial do autismo e algumas cidades iluminaram seus monumentos de azul, cor oficial desse transtorno que intriga quem o conhece de perto.

O primeiro registro histórico que temos de uma criança autista é do século XVIII, onde um menino de aproximadamente treze anos foi encontrado pelos moradores de uma aldeia em Aveyron, sul da França, tentando furtar comida e se abrigar do frio. Foi capturado e encaminhado para tratamento no primeiro Instituto Nacional dos Surdos em Paris.

Lá foi batizado de Vitor e diagnosticado como uma criança inteligente, com excelente memória, paixão por rotina, mas sem linguagem ou contato social. A dúvida que atormentava os médicos que cuidavam de Vitor era se ele tinha ficado assim porque foi abandonado na floresta muito pequeno e privado do contato humano ou o contrário, se fora abandonado na floresta por ser uma criança estranha.

Essa dúvida permanece até hoje e as causas do autismo continuam intrigantes e sem consenso. Como aconteceu com Vitor, a primeira suspeita é que a criança seja deficiente auditivo e por isso não fala. É comum que a preocupação surja por volta de um ano de idade da criança, quando ela deveria começar a falar, mas não o faz. Daí em diante, as famílias iniciam uma peregrinação por especialistas, acompanhadas de exames, quase sempre inconclusivos, pois a maioria dos autismos não aparece em exames de tomografia, ressonância ou sanguíneos. O diagnóstico é clínico.

Escrevo no plural porque não há um único autismo, mas vários enquadrados nos Transtornos do Espectro do Autismo de acordo com a complexidade e a variedade do quadro. Outras maneiras genéricas de classificá los são: Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Transtorno Global do Desenvolvimento .

Todas essas terminologias partem de um mesmo pressuposto: o autismo não é considerado uma doença e sim um transtorno, onde determinadas áreas do desenvolvimento ficam alteradas, a saber, as áreas da linguagem e da sociabilidade. É mais comum em meninos (1/70 nascimentos, contra 1/110 nas meninas) se incluirmos todos os graus do autismo, desde a Síndrome de Asperger (forma de autismo brando) até o autismo severo.

O quadro autista é bastante típico: desenvolvimento físico e motor normal, inteligência preservada, fixação em rotina, excelente memória, metodismo exagerado, fala ausente, prejudicada ou estranha (sem sentido, repetitiva, não responde o que é perguntado ou imita slogans de comerciais televisivos) e contato social abaixo do esperado para a idade.

Mesmo nos casos mais brandos há uma incapacidade de compreender o sentido implícito da linguagem e as interpretações são sempre literais. Nas crianças pequenas é comum o excesso de tempo na televisão assistindo repetidamente os mesmos trechos de filmes e a preferência por brinquedos eletrônicos que repetem os mesmos movimentos ou frases. Também é comum que sofram para cortar cabelos e unhas e se desorganizem quando levados para lugares fechados e cheios.

No Brasil, em média, o diagnóstico do autismo é feito quando a criança tem cinco anos. É tarde e o grande responsável é o despreparo dos profissionais da primeira infância. O Ministério da Saúde está desenvolvendo uma pesquisa multicêntrica em todo país para levantar indicadores de autismo e formular um manual para os pediatras, ensinando os a reconhecer traços do autismo desde o primeiro ano de vida, pois é comum que os bebês já apresentem algumas alterações que passam despercebidas por todos, como por exemplo: ausência de contato visual, de balbucio e de jogos de esconde esconde (a Cuca, cadê o nenê? achou!) e do cai não cai (aquele que o bebê joga coisas para fora do seu campo visual, o adulto pega e ele joga novamente).

Esses jogos comuns em bebês com um pouco menos de um ano de idade são preparatórios da linguagem, pois todos representam a ausência de objetos para nomeá los, ou seja, a formação do simbolismo na criança; área já comprometida no autismo.

O diagnóstico tardio ainda é o grande desafio dos autismos, pois o tratamento precoce, a orientação familiar e a inclusão escolar ainda são os melhores remédios. Não existe cura para os autismos, mas a melhora depende da intervenção desses três fatores.

Dra. Renata De Luca é psicóloga, especialista em psicanálise de crianças e de adolescentes pela USP, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria. Contato: renatadeluca@uol.com.br
 
Fonte : Dra. Renata De Luca Publicado : 07/04/2011
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