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Dicas de Saúde / Psicologia
 
Pequenas misses
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Kerry Campbell perdeu recentemente a guarda da sua filha de oito anos, Britney, após admitir em um programa televisivo de rede nacional que aplicava Botox no rosto da filha para que ela tivesse mais chances de ganhar concursos de beleza infantil. Também depilava partes do corpo da menina, já que é esteticista na Califórnia, onde vivem.

A confissão pública de Kerry ao dizer que teve essa idéia conversando com outras mães e que esse tipo de atitude é normal nos bastidores dos concorridos concursos de beleza, acendeu uma polêmica entre os americanos, país onde essas competições são frequentes, valorizadas e levadas muito a sério. Quem tiver alguma dúvida, basta assistir ao programa “Pequenas Misses” do canal de TV Discovery Home e Health e verá mães sofrendo em meio a laquês, brilhos e muito cor de rosa. Quando uma criança ganha um desses concursos, a comemoração é digna de gente grande.

Mas até então, nunca alguém havia assumido publicamente um excesso como o cometido contra Britney, cujas fotos com o rosto marcado por agulhadas correu o mundo. De repente, aquilo que parecia amor, vaidade e desejo que a filha fosse eleita, transformou-se em crueldade, egoísmo e excesso.

Não que Kerry seja a primeira, nem a única a fantasiar a filha para desfilar. Ela admite a dura competição que cerca esse meio e tudo que as mães fazem para ajudar as filhas: viagens, despesas, sacrifícios, aulas de etiqueta, ensaios, dietas e tudo mais que alguém é capaz para parecer mais bela na passarela. Aposto que ela deve estar espantadíssima com os efeitos da sua declaração e que nem de longe sonhava com as críticas que está recebendo pelo mundo. Também não duvido que se ela tiver oportunidade de falar, nos contará o quanto ama a filha e quer o melhor para ela, ajudando-a a alcançar sonhos que ela não pode realizar.

Toda vez que ouço essas coisas, lembro-me da frase de uma professora argentina proferida com aquele apelo dramático que só a língua espanhola tem: “Hay amores que matan!”. Que tipo de amor é capaz de matar?
O amor egoísta pode matar. Mata porque faz do outro um objeto dos nossos caprichos, neuroses e desejos. O outro deixa de existir e é amado na medida em que abdica da sua personalidade para satisfazer o que lhe é pedido. Isto é morrer. Existem pessoas que somem, transformam-se em marionetes nas mãos de parceiros exigentes, ciumentos, controladores e chantagistas em nome do amor. Um amor nada santo, no sentido de querer o bem do outro, que deveria vir com um alerta de perigo mortal igual ao dos cigarros.

Qualquer personalidade mais frágil é presa fácil para esse tipo de amor: os abandonados, feridos, inseguros e injustamente, as crianças. Tenho uma plaquinha que leio todos os dias onde está escrito que a melhor coisa que podemos dar aos nossos filhos são raízes e asas. Não sei que escreveu, comprei sem autor, mas ela é de uma sabedoria infinita, pois parte dela serve de alerta contra esse risco fortíssimo de “objetalizar” uma criança que amamos, cortando-lhe as asas para que realize os nossos sonhos e não os dela. A escravidão é sempre um perigo nas relações amorosas e na de pais e filhos, mais ainda.

É perigosa porque um filho é um investimento narcísico e queremos dar para ele o que não tivemos, como se ele pudesse ser uma versão melhor acabada de nós mesmos. Cada êxito de um filho nos massageia, cada realização nos completa. Isso é uma “faca de dois gumes”, pois é necessário para a relação pais filhos, mas também é arriscado, pois o limite do abuso da inocência infantil é muito perigoso. Alguém duvida que Kerry Campbell sonhou em ser miss, mas teve que contentar-se em trabalhar para deixar os outros mais bonitos através da estética?

Aos interessados no assunto, sugiro o divertido filme “Pequena Miss Sunshine” (Jonathan Dayton e Valerie Faris, 2006), cuja Kombi amarela serve de paradigma contra essa loucura dos concursos de beleza infantil.
 
Fonte : Dra. Renata De Luca Publicado : 19/05/2011
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