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Dicas de Saúde / Psicologia
 
Criança troca seus brinquedos pelas brigas dos pais
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Um vídeo exibido no blog do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo (e postado no Youtube), levantou comentários na semana passada após ser divulgado pelos jornais, por exibir uma cena ocorrida em um culto no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Essa cena retrata uma conversa entre um bispo da Universal e um garoto de nove anos de idade, que lhe conta que seus pais estão brigando muito. O pastor pergunta que sacrifício ele fará pelos seus pais e o menino responde: Eu vou dar tudo que tenho . E o que você tem? indaga o bispo. Brinquedo , diz o menino. Você vai vender? continua o bispo. Sim , ele responde. Pra colocar aonde? No altar , termina a criança.

Nas próximas cenas, a mãe do menino aparece em uma espécie de ritual de exorcismo, sendo amparada por um obreiro da igreja. O bispo diz que ela tem o demônio e pede à criança que chegue perto e diga Acabou prá você, diabo . O vídeo fecha com o bispo Guaracy dos Santos apelando ao garoto Seja fiel, vende o que tem. Tem fé para isso? Vai na tua fé .

Não está em questão criticar determinada igreja, religião ou fé, pois qualquer um falando em nome de alguma coisa pode se aproveitar da sua posição para abusar desse lugar que lhe é concedido. Os capangas batem em nome dos coronéis, milícias abusam em nome da lei, empregados dão carteirada em nome dos patrões e assim por diante. Pessoas podem abusar das posições que as legitimam e nem sempre retratam o pensamento da instituição que representam. Aliás, esse é um mau hábito do nosso país responsável por tantos abusos e desvios: o fato de estar lá autoriza tirar vantagem em benefício próprio.

O que deve ser condenado nesse episódio não é a igreja, mas a exploração da inocência infantil em um momento de sofrimento que é para uma criança testemunhar brigas recorrentes entre seus pais. Anos de trabalho com crianças me ensinaram que é preferível um divórcio, por mais doloroso que seja, do que assistir impotente a briga dos pais por anos a fio. Se um casal consegue se separar sem destruição nem retaliação e continuar exercendo o papel de pais, a criança pode crescer saudavelmente, sem nenhum problema decorrente disso. Mas, se a criança vive em uma arena e lhe é solicitado que apóie um dos lados, as marcas são eternas.

Especialistas no ECA ( Estatuto da Criança e do Adolescente) dizem que não há um artigo nesse estatuto que aborde diretamente situações como essa, mas que podemos considerar que o vídeo fere alguns princípios, pois expõe o menino e o manipula, aproveitando se da sua vulnerabilidade.

A inocência de oferecer seus brinquedos como troca para que essas brigas cessem é o mais triste nessa história e isso receber incentivo de um adulto que representa ajuda, é brutal. Qual é o sentido disso? Ensinar a sacrificar desde cedo para conseguir prêmios? Não é possível encontrar algum sentido pedagógico nisso, apenas abuso de poder, que infelizmente pode ser exercido por qualquer um, em qualquer lugar. Lembram se do episódio Maísa, a menina fetiche?

Aproveitar se da fragilidade alheia, seja ela causada pela inocência, ignorância ou desespero, deveria ser um dos pecados capitais. Ocorra ela no altar, no palco ou nos bastidores.
 
Fonte : Dra. Renata De Luca Publicado : 21/07/2011
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