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Dicas de Saúde / Psicologia
 
Dúvidas éticas sobre a reprodução assistida
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O delicioso filme Minhas mães e meu pai (Lisa Cholodenko, E.U.A.2010) aborda uma situação cada vez menos fictícia nos dias de hoje: o procedimento ético com filhos que nasceram com o auxílio das técnicas de reprodução assistida. Nos Estados Unidos, onde se passa a história do filme, a lei permite que o doador de sêmen seja localizado através de um código numérico obtido nas clínicas de fertilização in vitro. Ao atingir a maioridade legal, o filho pode manifestar o desejo de conhecer o doador, seu pai biológico. A clínica comunica esse desejo ao doador, que decide se deseja conhecer o filho ou permanecer no anonimato. No filme, eles se conhecem e isso traz vários questionamentos para todos envolvidos.

O anonimato nas doações de óvulos e sêmen tem suscitado debates éticos em todo o mundo, pois só nos Estados Unidos nascem 60 mil bebês por ano gerados através de esperma doado. A tendência desses números é aumentar devido às mudanças culturais que a sociedade está vivendo, como a união estável de homossexuais, as famílias monoparentais ou os casamentos após da idade fértil. Essas pessoas, assim como os casais heterossexuais com problemas para engravidar, recorrem às técnicas de reprodução assistida e com sucesso, podem ter filhos e criá los como qualquer criança.

Mas, dúvidas éticas não cessam de brotar: o filho deve saber sobre sua história? O anonimato pode ser quebrado? Quantas gestações um mesmo doador pode produzir? A americana Cynthia Daily criou um site na internet para que crianças filhas de um mesmo doador possam se conhecer. Seu filho, com sete anos de idade, foi concebido através de uma doação de esperma e hoje conhece 150 meio irmãos, filhos do mesmo doador, através desse site.

No Brasil, não existem leis que normatizam o anonimato, mas uma resolução do Conselho Federal de Medicina prevê que a doação de gametas seja anônima. Apenas em casos de doenças graves, informações relevantes sobre a genética do doador é passada para os médicos, mas sua identidade continua preservada. Um doador brasileiro pode produzir até duas gestações de sexos diferentes numa área de um milhão de habitantes, isso para limitar um abuso das clínicas de fertilização e cercear duas preocupações: o perigo, mesmo remoto, de incesto involuntário e o aumento das doenças genéticas. A falta de monitoramento multiplica ambos os riscos. Se você, caro leitor, pensa que tudo isso é ficção, pode se beliscar e despertar para o século XXI e seus novos dilemas éticos.

Uma outra questão é se os filhos devem saber sobre sua origem: a maioria dos casais brasileiros que recorrem aos bancos prefere não contar isso para seus filhos e recebem orientações divergentes dos especialistas. Alguns acreditam que a criança não deve saber, outros não pensam assim. A recomendação psicológica é que se conte, pois segredo faz mal e deixa rastros mal resolvidos. Vale lembrar tudo que aprendemos com a adoção no passado, estigmatizada e escondida. Não podemos cometer os mesmos erros com os filhos da reprodução assistida.

Em um congresso sobre esse tema, ouvi a apresentação de um caso de uma garotinha de cinco anos, filha de um casal de mulheres homossexuais e fruto de reprodução assistida, que foi questionada por um amiguinho da escola sobre quem era seu pai. Ela respondeu que não tinha pai. Ele afirmou que se ela não tinha pai, então não existia. A dúvida foi levada para casa e suas mães tiveram que lhe contar sua história para que se tranqüilizasse. Certamente, temos muito que aprender sobre tudo isso!
 
Fonte : Dra. Renata De Luca Publicado : 09/09/2011
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